Thursday, 17 January 2008

Jumping Jack Flash II

«Last summer, the small British publisher and design company Tank hit on the idea of producing a range of classic books packaged like cigarettes. Abridged works and short stories by Kafka and Conrad, Tolstoy and Kipling, Hemingway and Stevenson, which looked like packs of 20 cigarettes, were duly distributed through bookshops and the Design Museum.
The books, released as Tales to Take Your Breath Away at the start of the cigarette ban in pubs and restaurants last July, were well received by the design press and have made popular Christmas presents. But now the publishers are having to inhale deeply themselves as British American Tobacco (BAT) claims that one of the packs, containing Hemingway's "The Snows of Kilimanjaro" and "The Undefeated", resembles its own Lucky Strike pack. Claiming that such an association could seriously damage the health of the brand, BAT is trying to have the works pulped.
» - (The Guardian)


O que pode parecer, à primeira leitura, um contrasenso - temer que a associação a uma obra literária possa deteriorar a reputação de uma marca de cigarros - revela-se rapidamente como uma noção muito assisada. Em alguns círculos, acender um Lucky Strike continua a ser um gesto banal, aceite pela maioria, e sem repercussões práticas em termos de estatuto social. Já sacar de um Hemingway, e logo de um dos Hemingways mais fraquinhos (o sentimentalismo oco de "The Snows of Kilimanjaro" está a milhas de distância da qualidade de um "A Clean, Well-Lighted Place", de um "The Killers" ou até de uma dose de nicotina e alcatrão), pode criar instantaneamente uma situação de conflito.
Posso contar uma pequena história pessoal que ilustra este problema. Estava um dia a saborear uma esplêndida refeição de peito de rouxinol órfão num excelente restaurante em Oxford, quando deparei com um indivíduo (não era, certamente, inglês) a ler "The Snows of Kilimanjaro" numa mesa ao lado. A minha noção de responsabilidade cívica impeliu-me a confrontá-lo directamente: «Excuse me Sir, but some of us are trying to move beyond the shallow stylistic stoicism of fake-macho-modernism, and into the intricate rhetoric and delicate symbolic interplay of late Faulkner. Would you please take your filthy pleasure somewhere else?» Pois o indivíduo (não era, certamente, inglês) teve o topete de não ceder a este apelo civilizado, começando até a brandir inanidades sobre a sua liberdade individual, e ameaçando tirar Charles Bukowski do bolso do casaco só para reforçar o argumento.
O mundo está a ir para o Inferno numa bicicleta com rodinhas estabilizadoras, é o que eu vos digo.

Jumping Jack Flash

Ontem de manhã, ao percorrer a distância que separa a Avenida de Berna da estação ferroviária de Entrecampos, e inalando pelo caminho o que suspeito ter sido uma razoável quantidade de enxofre, dei comigo a pensar: que bela voz de soprano tem aquele gafanhoto gigante.

Tuesday, 15 January 2008

Donna!





As boas paródias têm sempre uma pitadinha de amor.

(Especialmente dedicado aos inúmeros adeptos portugueses. Gostava que alguém se desse ao trabalho de analisar uma possível correlação entre a popularidade de West Wing na Europa e o interesse crescente pelo espectáculo que é a arena política americana. Confesso que, pessoalmente, sou incapaz de ler a cobertura das Primárias no New York Times sem visualizar os assessores de Obama, McCain, etc, a correrem por corredores imaginários, tropeçando em velhos diálogos de Rock Hudson e Doris Day, com uma orquestra salivante a pontuar os monólogos idealistas do respectivo patrão.
Já agora, parece-me evidente o fatídico momento em que o programa saltou acrobaticamente
por cima do tubarão: o episódio 16 ("Drought Conditions") da sexta série. Tendo, contra todas as probabilidades, sobrevivido à saída de Sorkin e à mudança de género - da soberba screwball comedy das primeiras 3 séries e meia para o irregular drama processual das seguintes - acabou por se enterrar no lodo da complexidade baratucha quando uma desesperada equipa de guionistas consultou o manual e decidiu "dar espessura dramática" a Toby Ziegler pondo o homem a chorar e a pedir companhia. Foi horrendo - como se o Mitch das Marés Vivas confessasse de repente que não sabia nadar. Devia haver uma lei federal aprovada por uma maioria de dois terços contra este tipo de coisas. )

(E a verdade verdadinha é que não há, este ano, um candidato tão apelativo como o Alan Alda.)


Monday, 14 January 2008

E não se lembraram da Academia de Alcochete

The 5 Current Genetic Experiments Most Likely to Destroy Humanity

#5. Super-Speed Mice
«Biologists at Case Western Reserve University in Cleveland have taken ordinary field mice and, rather than bopping them over the head, opted to genetically modify them by limiting the biochemical process which allows for explosive bursts of energy. The end result of this limitation is that endurance energy becomes massively increased, thus enabling them to "run up to four miles at a speed of 20 meters a minute for five hours or more without stopping." (...) The mice also live longer, eat more, mate more often (and for three times as long) and when provoked, inform you in thick Russian accents that they "must break you."»

#4. Jellyfish-Monkeys
« (...) Scientists modified a harmless virus with jellyfish genes and introduced it into the embryos of Rhesus monkeys, which sure beat the old-fashioned way of making a Jellyfish Monkey--furiously masturbating a jellyfish directly over a spread eagle monkey. (...)
The researchers hoped to make the monkey glow. Seriously, that's it. The researchers justify continuation of these experiments with a lot of fancy talk about tracking the genetic markers and learning how to create stable, transgenic monkeys for future experiments. But, in the end we all know that, like us, they really only wanted to throw decadent and hilarious monkey raves.»

#2. Zombie-Pigs
« (...) Charlotte's Web wasn't lying. Pigs are actually highly sensitive animals, which is a bad match for their primary occupation on farms and factories: living in a cage and being turned into hot dogs. And, since pigs can't write angsty poetry on the back of Trapper Keepers and listen to Belle and Sebastian, the stress of confinement often results in a slew of bizarre neurological conditions, such as obsessive tail chewing, haunch-rubbing and bar-biting, all of which sound vaguely homoerotic to our adolescent minds.
The primary usage of these modified, stress-free pigs that live longer lives with fewer disorders is to allow the scientists to observe more deeply the effects of further experimentation. In other words, it makes them easier to treat horribly. For the consumer, the added bonus is a relief of all that meat eaters guilt, since the new animals presumably give knowing winks and cheerful thumbs up signs as they are lead off to slaughter.»


(Podem ler o resto deste equilibrado e racional exemplo de divulgação científica aqui. Se a Nature fosse escrita neste registo, eu já tinha uma subscrição vitalícia.)

Sunday, 13 January 2008

Pavlovic

Se eu pudesse, passaria grande parte do meu tempo a pôr cruzinhas em testes como este. Tenho aprendido muito sobre mim próprio. Foi com testes de escolha múltipla que, na sala de espera de um dentista em Sacavém, descobri que os homens tendem a ver-me como uma rapariga forte e independente (Ragazza, 1997; não é verdade). E que sou espectacularmente Sagitário (Nova Gente, 1997; também não é verdade).
O mais recente totobola revelou a minha afinidade ideológica com Ran Tan Paul, alguém com quem de facto partilho algumas muito sensatas posições libertárias ("guns: cool; taxes: evil; smoking: whatever"), mas que tem a clara desvantagem de ser um lunático em quem eu nunca votaria na vida. Esclareço que não são as suas posições que o tornam lunático: dados os resultados do teste, isso faria de mim outro lunático. Deve ser outro problema qualquer que me faz vê-lo como um lunático. Ou então o teste quer simplesmente dizer-me isto: se eu visse o meu próprio programa eleitoral (assinado com ou sem aspas), é provável que desatasse a fugir.
Naturalmente, testes como este fazem ainda menos sentido quando as cruzinhas são arremessadas do lado de cá do Atlântico. Se eu fosse americano, algumas das respostas teriam sido diferentes. Mas também, se eu fosse americano, seria muito provavelmente adepto dos Red Sox, e teria problemas de auto-estima ainda mais graves do que aqueles que me afligem neste momento.